sexta-feira, 16 de abril de 2010


O TELEFONE

Metais Sonoros ou Símbolo Tilintante?


INTRODUÇÃO

Numa perspectiva diferenciada, Mcluhan compreendeu os meios de comunicação como forma de extensões do homem. Ele percorre dois eixos como ápice de suas teorias. A primordial estaria relacionada aos sentidos do ser humano como forma de interação com o mundo e o espaço que o rodeia; oportunizando, assim, a concepção de novas ideias e a construção do seu próprio eu.

Com o surgimento do telefone, o homem teve a oportunidade de expandir seu contato social e sua atividade comunicativa, pois tal engenho tecnológico abriu as portas de um mundo novo e pronto a ser descoberto. Tendo em vista que o ser humano é por natureza um desbravador, essas oportunidades caíram “como uma luva” para sua sede de conhecimento.

O intuito deste trabalho é o de demonstrar, de forma simples, qual o impacto social que o surgimento do telefone teve na vida do ser humano desde muitos anos atrás até hoje. Por conseguinte, o primeiro tópico a ser tratado será o surgimento do telefone em consequência da luta para tornar a fala visível. Já o segundo item abordado é a visão de Mcluhan sobre o surgimento desse engenho tecnológico que foi capaz de transformar a vida do homem letrado.

Continuando, o terceiro ponto discutido é o telefone como símbolo tilintante e qual a significação possível para o que seria este “símbolo”. Para terminar nossa explanação, no quarto e último tópico, a visão do telefone com o poder de socializar o homem letrado que, até então, estaria longe de ser dependente do outro para comunicar-se e interagir com o mundo.


1. O surgimento do Telefone

Com o advento da eletricidade, várias tecnologias vêm surgindo no nosso cotidiano; mas antes disto, muitos outros inventos já surgiram. Como exemplo, podemos citar os telégrafos que já estavam incorporados à vida cotidiana das pessoas por volta de 1870, nos Estados Unidos. Entretanto, deve-se salientar que este veículo não era socialmente utilizado em larga escala. E justamente pela necessidade de se ter um equipamento tecnológico que atingisse uma grande escala social e atendesse as necessidades, foi que se pensou em um aparelho mais acessível, e ao mesmo tempo, simples de ser utilizado e capaz de enviar múltiplas mensagens pelo mesmo fio do telégrafo; “ A luta para aperfeiçoar a fala visível para os surdos levou os Bells a estudarem os novos dispositivos elétricos que deram nascimento ao telefone”. (p. 302) Surge então, o telefone.

Segundo Mcluhan (2007):

A palavra “telefone” surgiu em 1840, antes do nascimento de Alexander Graham Bell. Era aplicada a um dispositivo destinado a transmitir notas musicais através de bastões de madeira.

Alexander Graham Bell e Elisha Gray chegaram quase ao mesmo tempo ao American Patent Office, mas o primeiro ficou em vantagem por uma ou duas horas, deixando os outros inventores como “nota de rodapé”.

2. Visão de Mcluhan sobre o telefone

A história do telefone se mostra como um ápice de influência no corpo e traz novos e diferentes sentidos culturais que são explicitados por meio de novas práticas sociais. Para se entender melhor tal afirmação, observamos que essa nova tecnologia trouxe o distanciamento do corpo na interação comunicacional, uma vez que não era mais preciso a presença física para a efetivação da comunicação.

A vanguarda das tecnologias adquire importância sobre o que já existia, sendo rejeitada de início por não ser conhecida, mas depois que faz parte do cotidiano torna-se indispensável. “Uma das ironias do homem ocidental é que ele nunca se preocupa com a possibilidade de uma nova invenção se constituir ameaça a sua vida”. (p. 303)


Mcluhan compreende que o telefone seria a extensão do ouvido e da voz, uma “percepção extra sensória”, ou seja, os sentidos não são ativados pelo aparelho e sim, pelo que é absorvido através dele. Já a televisão pode ser compreendida como “extensão do sentido do tato” ou a estimulação da “interrrelação dos sentidos”, isto é, a imagem é capaz de ativar os sentidos num todo.

Este artesanato tecnológico veio de encontro aos costumes do homem letrado que estava habituado a comunicar-se de forma fragmentada, sem a dependência do outro para interagir. Ele não está acostumado “à exigência de atenção total”. O individualismo pôde ser superado, parcialmente, com o advento da comunicação telefônica. Para o ser humano, às vezes, é difícil se expressar, principalmente no que diz respeito aos sentimentos, e o telefone permite a confissão indireta, sem o contato visual, “(...) o telefone trouxe de volta ao mundo dos executivos como um fator geral de harmonia, um convite à felicidade e uma combinação de confessionário e muro de lamentações para o imaturo executivo americano”.

Como descentralizador de ambientes, o telefone surgiu para quebrar barreiras entre as pessoas, que antes viviam em um isolamento; tornou-se um “companheiro para os solitários”. Por meio desta nova tecnologia, ocorreu a quebra de distância entre as pessoas; hoje não precisa estar ao lado, ou mesmo na mesma cidade, para poder compartilhar informações ou, simplesmente, matar a saudade de alguém que está distante.

Outra tecnologia que fazia, e talvez ainda faça, parte da vida do ser humano é a máquina de escrever, que para Mcluhan é gêmea, “bem pouco parecida”, do telefone. Uma vez que a máquina de escrever é um equipamento tecnológico mecânico que pode ser compreendido como uma extensão das mãos, que através da escrita materializa o pensamento. Já o telefone é uma extensão da voz materializada pela captação dos ouvidos.

“Como todos os meios são fragmentos de nós mesmos projetados no domínio público, a ação que qualquer meio exerce sobre nós tende a aglutinar os demais sentidos numa nova relação”. (p.299)


3. O símbolo tilintante

Quando pensamos em símbolo imaginamos que ele seja a representação de algo já interiorizado, e no instante em que temos contato com uma imagem simbólica, automaticamente, nos vem o conceito pré – estabelecido: “ideia consciente que representa e encerra a significação de outra inconsciente”. ( Dicionário Aurélio, 2005)

Ao tocar o telefone, sentimos um impulso inconsciente de atende – lo, o seu toque aguça nosso sistema nervoso estimulando nossa curiosidade. Quanto a isso, Mcluhan faz uma serie de interrogativas na tentativa de compreender que relação esse aparelho tem com o homem, e para ele: “ O telefone é uma forma participante que exige um parceiro, com toda a intensidade de polaridade elétrica”.(p.301)

Se estivermos lendo somos capazes de imaginar uma trama sonora para as palavras, se estamos ouvindo rádio imaginamos a cena visualmente. No entanto, não somos capazes de fazer o mesmo ao telefone, isso se dá por que este artesanato tecnológico exige a participação completa do ser, e o homem letrado está habituado com o fragmentado. Para o autor essa dificuldade se iguala ao aprendizado de uma outra língua, pois esta iria exigir a participação total do indivíduo.

O homem ocidental é visual e para ele torna-se difícil compreender o mundo não –visual das sociedades audiotateis. “Muita gente sente um forte impulso em rabiscar, enquanto está telefonando”.(p.300) Essa atitude está diretamente ligada a necessidade de envolvermos todos os nossos sentidos estando ao telefone. Para Mcluhan, o rádio que possui um padrão de alta definição serve como “pano de fundo”, ou seja, o indivíduo pode fazer qualquer outra atividade ouvindo rádio, mas não poderá fazer o mesmo estando ao telefone, pois este necessita da participação de todo o seu ser.

4. O telefone: instrumento de sociabilidade

Numa sociedade capitalista tem – se claramente a divisão da sua pirâmide: sua base formada pela classe de trabalhadores, o centro a classe média e o pico a grande burguesia.


Em uma grande empresa dificilmente um grande executivo receberia um simples operário, contudo através do telefone é possível ter acesso a esse grande capitalista sem necessariamente estar na sua presença, “O telefone é um entrão irresistível em qualquer tempo e lugar;”(p.305)

Agora é como se não houvesse mais barreiras operário e superiores estão no mesmo patamar comunicativo, o telefone possibilitou um interação direta entre eles sem distinção hierárquica. “ Por sua natureza, o telefone é uma forma intensamente pessoal que ignora todos os reclamos da intimidade visual tão prezada pelo homem letrado”.(p.305)

Trata-se da mesma espécie de interação total num papel e que provoca arrepios em todo homem letrado quando se defronta com as exigências implosivas da trama inconsútil da tomada elétrica de decisões. (...) Assim como a grande explosão ocidental se deveu, antes de mais nada à alfabetização fonética, a reversão do movimento unidirecional do centro para margem se deve à eletricidade”.(p.306)

Esta citação serve para comprovar a ideia de Mcluhan de que o telefone não pode ser considerado um meio de comunicação fragmentador, já que diminui os espaços entre os indivíduos, sendo ele formado por redes “inconsúteis”; o efeito que o telefone causa no homem vem de fora para dentro (implosão tribal), diferentemente da TV que é de dentro para fora (explosão fragmentada), pois “ ao telefone só funciona a autoridade do conhecimento. (...) A autoridade do conhecimento é não-linear, não –visual e inclusiva”.


CONCLUSÃO

Com o surgimento e a proliferação das tecnologias de comunicação, o homem teve a oportunidade de experimentar novas formas de interação com o conhecimento e com as pessoas. As tecnologias de comunicação ampliaram e acentuaram as capacidades humanas de falar, ouvir e ver.

Com isso, o surgimento de artefatos técnicos ao longo do tempo fez com que o homem pudesse criar mecanismos diferentes para se comunicar cada vez mais. O uso humano das tecnologias de comunicação faz com que o telefone se torne um novo ambiente social para transmissão de palavras e sons, transformando sua perspectiva de sociabilidade.

O acesso facilitado a este meio, faz com que a comunicação se torne mais acessível e assim, passa a aproximar pessoas que, devido à distância geográfica, nunca poderiam se conhecer; e as que já se conhecem, tem nas mãos um novo canal comunicativo, reforçando os laços já existentes no espaço físico.

De acordo com CAMARA Jr. (1981:11):

É quase exclusivamente pela linguagem que nos comunicamos uns com os outros na vida social. Pode-se dizer que a sociedade humana, em confronto com os aspectos rudimentares das colônias dos animais gregários, é, na sua tremenda complexidade, uma conseqüência da posse da linguagem.

A teoria de Mchulan formulada no século anterior tornou – se um adiantamento da influência das mídias no cotidiano atual. Após o surgimento da tipografia, a humanidade mergulhou num processo de desenvolvimento irreversível, essa sede por novas descobertas tecnológicas fez com que o homem se modificasse de tal forma não sendo possível voltar a ser o que já foi um dia.

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