Para a sociossemiotica o “saber sobre o mundo” é construído pelo sujeito nas suas práticas sociais. Para tanto, ele se utiliza de discursos que não são próprios, mas reproduções de outros. Desta forma, o homem constitui-se um ser de discurso, lembrando que este compreende qualquer manifestação da linguagem. A efetivação do discurso dependerá da sua intencionalidade, que está diretamente ligada aos fatores ideológicos subjacente a ele.
[...] o horizonte axiológico ganha toda sua importância, à medida que comanda a inscrição do socioideológico na troca comunicativa, dirige a organização dos elementos sintáticos, semânticos e retóricos, de tal forma que a escolha de uma metáfora, por exemplo, deve revelar a posição social do enunciador. (SOUZA,2006:138)
No vídeo, ora em análise, temos três campos discursivos: o menino, o cão e a TV. Inicialmente, temos a imagem de uma criança sentada diante da tela da televisão, ela está bocejando, semioticamente, este gesto pode ser compreendido como índice de tédio ou cansaço, o infante está muito próximo ao aparelho e mesmo assim, segura o controle na mão, como se ele quisesse ter o domínio da máquina. Entretanto, o que se percebe é que o aparato tecnológico é que exerce controle sobre o garoto.
Observando a TV pela óptica semiótica, ela seria um sin-signo – icônico – remático, já que temos a relação do representamen com o aparelho. No vídeo a televisão exerce um poder narcótico sobre a criança, que para Mcluhan,
[...] a TV incentiva a criação de estruturas em profundidade no mundo da arte e do entretenimento, criando ao mesmo tempo um profundo envolvimento da audiência. Quase todas as tecnologias e entretenimento que se seguiram a Gutenberg não têm sido meios frios, mas quentes; fragmentários, e não profundos. Orientados no sentido de consumo e não da produção. (2007:351)
Para ele, a TV é um mecanismo que não estimula as potencialidades do intelecto humano. Essa não estimulação é um índice do caráter de dominação ideológica que ela exerce sobre o indivíduo, que fica maravilhado diante da caixa reluzente. Este maravilhamento pode ser observado nas várias acrobacias, realizadas em vans, pelo cão na tentativa de tirá-lo da frente da máquina.
Uma das imagens trazidas pela mídia é o armário onde estão guardados os brinquedos, que geralmente são os preferidos de todos os meninos: a bola, o patinete, o barco e a bicicleta. O cãozinho, na tentativa de chamar a atenção do menino, se dirige várias vezes até esse armário trazendo- lhe de cada vez um brinquedo diferente, mas é em vão. A criança simplesmente ignora o cachorro.
A imagem do vídeo analisada semioticamente, pode nos auxiliar na compreensão da realidade social. Neste caso, o ambiente onde foi feita a mídia nos revela a realidade de uma criança de classe média. Esta possui em casa todo o conforto de que necessita para um bom desenvolvimento cognitivo. Entretanto, a criança não demonstra nenhum outro interesse que não seja ficar estático na frente da TV.
Após as várias tentativas, o cão como índice de frustração apóia suas patas no móvel em que está a TV, percebendo que não importa o que ele faça a criança não sairá da frete do aparelho, essa atitude nos leva a compreender as características interacionistas do discurso, isto é, as relações estabelecidas entre o cão, o menino e a televisão.
Para melhor compreendemos essa relação interacional, utilizaremos a análise plástica do vídeo, atentando-nos para o contexto discursivo no qual o VT foi produzido. Mas temos que observar que:
“A semiótica plástica não busca a compreensão mais fácil de todos os significados assumidos pelas formas visuais, e sim estudar as redes de relações simbólicas e semi-simbólicas, entre o plano de conteúdo e o plano de expressão no discurso visual, sendo assim a semiótica estuda o processo de significação, o sentido (“jogo” de oposições) e não o signo.”(PINTO,2009:61)
Quanto as categorias plásticas utilizadas na elaboração do VT, temos no aspecto cromático a utilização de cores em tons pastéis, na tentativa de explorar a sensibilidade do telespectador, na intenção de levá-lo a reflexão do uso da televisão. No âmbito topológico temos a percepção do espaço que corresponde: a sala e o armário. Temos a noção de alto, representado pela TV num lugar de destaque (plano superior) e o baixo, representado pelo garoto que está sentado no chão como sinal de prostração (plano inferior). Já a categoria eidédica é percebida pela disposição dos móveis, em sua maioria, retangulares que reforçam a idéia de organização e estrutura financeira da família. A noção de extensividade será no VT representada pelas idas e vindas do cachorro da sala até o armário, ou seja, o caminho por ele percorrido como índice de esforço, na tentativa de chamar a atenção de seu dono.
Ao final do vídeo a mensagem diz: “ Hay muchas cosas que se puede saber en lugar de ver tanto la televisón.¿Por que no las pruebas? Aprenda a usar la televisión”, reforçando tudo aquilo que é apresentado anteriormente. Trata-se do alerta sobre o tempo que está sendo gasto incorretamente com a TV.
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